Numa tarde de domingo, filho ainda pequeno, quase um bebê. Recém-casada, insegura e ao mesmo tempo confiante no futuro, entre um olhar e outro repassando as páginas daquele livro, Silvia se transpõe do real ao imaginário inserido-se na poesia como se tivesse atendendo a um chamado.
Começa então a dialogar com a escritora, ou quem sabe com a própria personagem. Isso nunca fica muito claro em casos assim.
O certo é que muitos questionamentos atormentavam Silvia, pois apesar de estar feliz no casamento e ser mãe amorosa e dedicada, seu olhar estava sempre a perseguir e comparar sua carreira do lar, com as bem sucedidas carreiras das amigas.Isso entretanto não a tornava infeliz, pois sempre ponderava: Será que vale a pena renunciar a convivência e a educação de um filho? Será que elas, as amigas, não se arrependeriam mais tarde? E aquelas que optaram por não serem mães?
Neste momento seus olhos avançaram duas ou três frases e as respostas começaram a lhe surgir num diálogo que parecia penetrar-lhe a alma.
Cora, a escritora, discorria sobre a missão da mulher:
_ "Renovadora e reveladora do mundo. A humanidade se renova no teu ventre. Cria teus filhos, não os entregues à creche. Creche é fria, impessoal. Nunca será um lar para teu filho. Ele, pequenino, precisa de ti”.
E Silvia olhando para o seu filho brincando, sentado no tapete da sala responde:
_ Sim, farei tudo para estar sempre ao seu lado. Estes momentos não mais voltarão. Quero entregar ao mundo, alguém possuidor de valores morais e humanísticos.
Cora, percebendo a auto-reflexão de Silvia, continua:
_ “Não o desligues da tua força maternal. Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições... Empregos fora do lar?
És superior àqueles que procuras imitar. Tens o dom divino de ser mãe.
Em ti está presente a humanidade.”
E Silvia novamente interfere:
_ Não me considero superior a ninguém, e devo confessar que gostaria sim, de obter independência, igualdade de condições...Empregos fora do lar. Por outro lado, eu não me perdoaria, ver meu filho sem uma referência de conduta, de amor e respeito ao próximo.
Cora, então arrisca suas últimas cartas, em defesa da felicidade de Silvia:
Silvia termina sua leitura e olhando para o filho, abraça-o forte e agradece a Cora, por ter lhe mostrado a grande missão da Mãe.
O que Silvia não imaginava é que após tantos anos pudesse estar trabalhando lado a lado com seu filho; ele jornalista, ela revisora.
6 comentários:
Adorei! Você está se revelando uma Sílvia e tanto! Realmente, Cora é inspiradora, como mulher, mãe, escritora, cozinheira, benzedeira, enfim, todas as personagens que ela mesma traduziu com maestria em sua poesia "Todas as vidas". Parabéns pelo texto. Pois você conseguiu transcrever o sentimento de muitas de nós. Eu também me sinto uma Sílvia.
Muito, muito, muito bom, adorei acho que conheço a Silvia e muitas outras Silvias, parabéns.Seu texto está perfeito.
Certa vez seguindo em direção ao trabalho no Trbunal de Justiça pasando em frente a uma creche vi u´a mãe apressada, certamene arazada para entar no emprego entregando a funcionária o filhinho que chorava e se debatia violenamente; deu-lhe as costas entrou no caro e partiu. Quantas vezes essa cena pode ter se repetido? Isso é amor de mãe?
Muito bom!!!
Realmente, há muitas Sílvias no mundo...
Não discordo de Cora, mas devemos concordar que, nem todas as pessoas tem previlégios de ser uma Sílvia?
as a força da mulheré tamanha... tenho uma gigante em ksa... e sou prova viva de que mulheres podem sim ser mães e trabalhar... Ainda mais se isso depender mais de sua necessidade do que vontade..
Afinal... quem é a MÃE que não gostaria de acompanhar todos os passos de sues filhos?
Bjossssssssss
Ah! E essa Sílvia aí eu tbm conheço viu? hahaha
Te amo!
É, Lu, sacanagem....você foi pinçar na poderosa e doce Cora os argumentos. Assim não vale!rsrs
Agora, sério, bem bacana você abordar esse questionamento que todas nós, mulheres e mães nos fazemos o tempo todo. Todas somos um pouco Silvia...
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