sábado, 31 de janeiro de 2009

O tempo de todos nós

Hoje, ao visitar o Blog de minha amiga Cláudia, lembrei-me deste poema que havia tempo, estava guardado e que se completa perfeitamente à postagem que ela publicou no Divã do Escritor

TEMPO
É sucessão
dos anos - felizes ou não;
dos dias - quentes ou frios;
das horas - bem aproveitadas ou em vão.
É noção de
presente,
passado
e futuro.
É equilíbrio das estações
Primavera
Verão
Outono
Inverno
É o momento para que tudo se realize,
Morrer
Viver
Nascer



“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?” (Charles Chaplin)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dia da Consciência Negra

A outra Negra Fulô

(Oliveira Silveira)


O sinhô foi açoitar
a outra nega Fulô
- ou será que era a mesma?
A nega tirou a saia
a blusa e se pelou
O sinhô ficou tarado,
largou o relho e se engraçou.
A nega em vez de deitar
pegou um pau
e sampou nas guampas do sinhô.
- Essa nega Fulô!
- Essa nega Fulô!,
dizia intimamente satisfeito o velho pai João
pra escândalo do bom Jorge de Lima,
seminegro e cristão.
E a mãe-preta chegou bem cretina
fingindo uma dor no coração.
- Fulô! Fulô! Ó Fulô!
A sinhá burra e besta perguntou
onde é que tava o sinhô
que o diabo lhe mandou.
- Ah, foi você que matou!
- É sim, fui eu que matou
–disse bem longe a Fulô
pro seu nego, que levou
ela pro mato, e com ele
aí sim ela deitou.
Essa nega Fulô!
Essa nega Fulô!



Muito louvável e digno o engajamento do professor e poeta Oliveira Silveira, na luta pelo reconhecimento do negro enquanto cidadão, artista, intelectual etc.
Do poeta Oliveira Silveira, sabe-se muito pouco ainda, mas desse pouco, sabemos que nasceu em Rosário do Sul, município à oeste do estado do RS, em 1941. É formado em letras, professor e pesquisador, militante pela causa da integração do negro na sociedade.
Pesquisas realizadas por Oliveira Silveira acerca da morte de Zumbi, dão conta de que 20 de novembro de 1665 foi a data oficial da morte do líder dos Quilombos, motivo pelo qual escolheu-se este dia para o reconhecimento do negro enquanto cidadão.
Embora não muito divulgada, a obra de Oliveira Silveira já tem poemas traduzidos em outros idiomas, dentre eles o inglês e o alemão. Consta de suas publicações as obras “Germinou”(1977), “Banzo, saudade negra”(1970), “Pelo Escuro”(1977), “Roteiro dos Tantãs”, entre outras.
Os versos de sua linguagem produzem uma estranheza que revela uma certa malícia e ironia.
O poeta que escreveu “Outra nega Fulo”(1970) é um poeta engajado com questões da integração do negro na sociedade, assim como Jorge de Lima o era em 1928, quando escreveu “Essa Negra Fulo”.
Nota-se um constante diálogo entre os dois poemas e ambos fazem exaltação à mulher negra.
A poesia de Silveira ironiza e dialoga o tempo todo com a de Jorge de Lima.
Enquanto Silveira afirma, interroga, exclama como alguém que desabafa, Jorge apenas relata os fatos, com indignação, mas passivamente sem envolvimento efetivo.
Silveira é dotado de coragem e enfrentamento, Jorge de Lima transcorre displicente, dócil à perspectiva de uma memória de infância, quase uma crônica do nordeste escravocrata.
Ao meu ver estamos necessitados de muitas outras consciências como a Consciência Verde, a Consciência Social, a Consciência Política, a Consciência Ambiental, a Consciência da tolerância a todas as desigualdades, sem exceção.
Zumbi é na verdade um símbolo da discriminação de toda ordem, seja ela étnica, religiosa ou sexual - esta inclusive no que diz respeito à opção.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Só digo aquilo que vejo

Só digo aquilo que vejo: não invento, nem aumento!
Longe de mim fazer mau juízo do rapaz! Rosalvo era o nome dele. Mas que ele tinha hábitos estranhos, ah! isso lá, ele tinha.
Onde já se viu levantar às 3 da manhã, vestir a roupa da mulher, atravessar a rua e entrar na casa da vizinha?
Diziam que ele sofria de sonambulismo, e que era perigoso acordar o doente, pois corria risco de morrer. Nunca ouvi falar nisso, mas...
Já tinha tentado todos os tratamentos, mas não havia meio dele querer sarar.
Coisa estranha! Sua mulher coitada, para compensar a ausência do marido, ficava acordada a noite inteira – fazendo poesia.
E eu, de quando em quando, olhava pela fresta da minha janela, para assuntar se estava tudo bem com Alva, a pobre da esposa. Afinal ela ficava sozinha. Não podia ir atrás do marido, senão ele morria.
- Doença triste essa!
Às vezes, aparecia um vulto que andava pela sala e estava sempre do lado da esposa de Rosalvo. Acho que era o mentor das poesias que ela fazia. Era um vulto alto, forte e perfumado.
- Como eu sei que ele era perfumado?
- Ora, de vez em quando batia um vento de lá, que entrava pela minha janela, e trazia o cheiro da lavanda!
Mas esse vulto aparecia também na casa da vizinha, uma casa amarela, para onde Rosalvo ia quando ficava sonâmbulo.
Ainda bem que isso só acontecia quando o marido da vizinha viajava.
E ele viajava toda semana... mas era a trabalho!
- Doença triste essa!
Certo dia, depois de tantas noites em claro, Alva foi contar quantas poesias tinha feito.
A doença de Rosalvo rendeu um livro com 200 páginas de poesias.
No início eram poesias de exaltação à natureza, ao amor sublime...daquelas de roubar a alma da pessoa amada!
Mas com o passar do tempo, Alva foi ganhando tanta inspiração, que suas poesias passaram da exaltação à excitação. Eu diria que eram eróticas mesmo! Deve ter sido influência daquele mentor alto, forte e perfumado.
O livro de Alva fez tanto sucesso que ela conseguiu pagar um excelente tratamento para Rosalvo. Ele não tem nem sinal de sonambulismo mais!
Mas a vizinha...Enfim! Tornou-se mãe de uma linda menina!
E Alva afeiçoou-se tanto à menina, que passava horas lendo histórias infantis para a pequena princesa, que lhe roubava a alma, tamanha era a sua doçura!
A menina foi crescendo com uma forte convicção: queria ser escritora de “histórias infantis” tão lindas quanto as “poesias de Alva”!.

Exercício proposto por Bruno Cobbi, intitulado Roubando Almas.
Desafio feito pela Patrícia Cytrynowicz: Um narrador envenenado.

Confira o mapa da aventura.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

E a Terra girou!

De repente ficou noite. Foi muito rápido. Rápido para ficar noite, mas uma eternidade para clarear o dia. Que não clareou!
Até aquele momento, a vida seguia tranquila; tudo no seu lugar.
Entretanto, já havia algum tempo, o sol apresentava algumas alterações de humor.
Olhava para a humanidade e do alto de sua dominância, não gostava do que via.
O fato é que as atitudes, os pensamentos, enfim, o comportamento da humanidade estava refletindo negativamente em seu trabalho. E também em seu humor.
Olhei pela janela e vi que o céu se pintava de um azul indescritível! E o sol soberano, intensificou o seu dourado. Parecia que tinha intenção de sobrepor-se ao azul celeste. Afinal ele era o rei do universo.
E assim o fez. O amarelo do Sol se impôs ao azul do céu. Vencido o embate, retirou-se repentinamente do cenário. O dia fechou-se. As nuvens apareceram e a Lua se instalou. Mas estrelas... nenhuma!

Fez-se noite. Eclipse? Não; certamente que não. O astro não queria voltar!

Nos restaurantes, pessoas que aguardavam para almoçar; jantaram. O comércio encerrou o expediente. Era noite. Algo inexplicável estava acontecendo.Segue-se então, uma semana sem a luz do sol.

A natureza, aos poucos ia se transformando. A comunidade científica colocou-se de prontidão. Animais metamorfosearam-se. O cachorro transformou-se em urso, o cavalo adquiriu aspecto de elefante, borboletas viraram águias.
Desequilíbrio total da natureza! Imagine o número de formigas que há no planeta; pois então: estas se transformaram em hipopótamos.
Um ano de transformações contínuas! O hemisfério Sul atravessou a linha do equador e trocou de lugar com o Hemisfério Norte. O eixo da Terra girou! A temperatura caía cada vez mais. Tudo estava fora de lugar, fora de controle.

Uma convenção mundial foi convocada! O fim da humanidade era iminente!
Idéias fora do lugar – decidiu-se então – recolocá-las em ordem e começaram pelo resgate dos valores humanos. Demorou algum tempo para que todos fossem lembrados - o “respeito” encabeçou a lista; depois vieram a honestidade, o caráter, a fraternidade...

Enfim, pouco a pouco a humanidade ia se reorganizando, na esperança de poder reparar algo que não havia dado certo.
E o sol? Cientistas presumem que ele tenha desaparecido do Universo. Mas para a ciência, o resgate do Sol será prioridade nos próximos 2.000 anos!

domingo, 19 de outubro de 2008

Fita Cinza






...e a menina segue agora pela avenida poluída, respirando o puro ar tóxico emitido pelos motores envenenados.Embora já acordado pelo tratado de Kyoto, mas indispensável para a manutenção do capitalismo, a emissão desses gases ainda continuam prejudicando seus frágeis pulmões.

A pequena ainda se lembra de quando passava por este mesmo caminho e só vislumbrava paisagens verdes e ar úmido. Era um tempo em que caía uma garoa fina... de lavar a alma! Até a sua fita ainda era vermelha... tal qual as framboesas que levava para sua vovó juntamente com potes de geléia. Com o passar dos anos, sua fita que era vermelha, ficou verde e agora está Cinza.

A vovó morava na floresta e Fita Cinza costumava visitá-la. Mas só o fazia durante o dia, e ainda assim, tomando todos os cuidados, obedecendo as recomendações de sua mãe.

- Filhinha, tome cuidado pelo caminho,há muitos mistérios e perigos na floresta. Ao primeiro sinal de perigo, peça ajuda ao caçador, ele haverá de protegê-la.

E assim, Fita Cinza seguia o seu caminho e quando se deparava com o perigo, ou seja, sempre que avistava o Lobo, pedia ajuda ao caçador. Mas o caçador não era bobo!

Fita Cinza cresceu! Sua fita que era vermelha e depois verde, escureceu, acinzentou. A vovó e a mamãe velharam - como disse Sr. Guimarães - e morreram. Fita Cinza ficou só. A Alameda se transformou em Avenida, as árvores deram lugar aos automóveis. O lobo se casou e se multiplicou. Fita Cinza está só! Enfrenta, todos os dias, muitos lobos na floresta de pedra. Os caçadores também se multiplicaram para combater os lobos, mas o responsável pela floresta de pedra não tem verbas para comprar armas para os caçadores.

E ... Fita Cinza está só! E se trancou dentro de casa a olhar o Sol pela janela.

Com medo de sair, ela convida o Sol para entrar e fazer-lhe companhia por alguns instantes.

E ele responde:

- hoje não posso, quem sabe amanhã, quando estes gases de Kyoto não estiverem obstruindo o meu caminho! Aí sim, poderei visitá-la.

Fita Cinza fecha a janela e adormece ofegante.

E ...



Exercício proposto pelo prof. Luiz Roberto para o Módulo Web Escrita: Paráfrase do conto "Fita verde no cabelo" de Guimarães Rosa

Curso de Pós Graduação "Formação de Escritores"

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Hai Kai

(Hai Kai)

Gota de Chuva
Deslizando na face
Amargurada


O Sol e o orvalho
Na folha da esperança
Dia ensolarado



Lu Faria