terça-feira, 11 de novembro de 2008

Só digo aquilo que vejo

Só digo aquilo que vejo: não invento, nem aumento!
Longe de mim fazer mau juízo do rapaz! Rosalvo era o nome dele. Mas que ele tinha hábitos estranhos, ah! isso lá, ele tinha.
Onde já se viu levantar às 3 da manhã, vestir a roupa da mulher, atravessar a rua e entrar na casa da vizinha?
Diziam que ele sofria de sonambulismo, e que era perigoso acordar o doente, pois corria risco de morrer. Nunca ouvi falar nisso, mas...
Já tinha tentado todos os tratamentos, mas não havia meio dele querer sarar.
Coisa estranha! Sua mulher coitada, para compensar a ausência do marido, ficava acordada a noite inteira – fazendo poesia.
E eu, de quando em quando, olhava pela fresta da minha janela, para assuntar se estava tudo bem com Alva, a pobre da esposa. Afinal ela ficava sozinha. Não podia ir atrás do marido, senão ele morria.
- Doença triste essa!
Às vezes, aparecia um vulto que andava pela sala e estava sempre do lado da esposa de Rosalvo. Acho que era o mentor das poesias que ela fazia. Era um vulto alto, forte e perfumado.
- Como eu sei que ele era perfumado?
- Ora, de vez em quando batia um vento de lá, que entrava pela minha janela, e trazia o cheiro da lavanda!
Mas esse vulto aparecia também na casa da vizinha, uma casa amarela, para onde Rosalvo ia quando ficava sonâmbulo.
Ainda bem que isso só acontecia quando o marido da vizinha viajava.
E ele viajava toda semana... mas era a trabalho!
- Doença triste essa!
Certo dia, depois de tantas noites em claro, Alva foi contar quantas poesias tinha feito.
A doença de Rosalvo rendeu um livro com 200 páginas de poesias.
No início eram poesias de exaltação à natureza, ao amor sublime...daquelas de roubar a alma da pessoa amada!
Mas com o passar do tempo, Alva foi ganhando tanta inspiração, que suas poesias passaram da exaltação à excitação. Eu diria que eram eróticas mesmo! Deve ter sido influência daquele mentor alto, forte e perfumado.
O livro de Alva fez tanto sucesso que ela conseguiu pagar um excelente tratamento para Rosalvo. Ele não tem nem sinal de sonambulismo mais!
Mas a vizinha...Enfim! Tornou-se mãe de uma linda menina!
E Alva afeiçoou-se tanto à menina, que passava horas lendo histórias infantis para a pequena princesa, que lhe roubava a alma, tamanha era a sua doçura!
A menina foi crescendo com uma forte convicção: queria ser escritora de “histórias infantis” tão lindas quanto as “poesias de Alva”!.

Exercício proposto por Bruno Cobbi, intitulado Roubando Almas.
Desafio feito pela Patrícia Cytrynowicz: Um narrador envenenado.

Confira o mapa da aventura.

4 comentários:

Nanete Neves disse...

Uau, agora entrou até um cross-dresser sonâmbulo na história...isso tá esquentando....

Pati Cytrynowicz disse...

Oi, Lucinda, parabéns pela "lição de casa"! Você seguiu dureitinho as instruções do narrador envenenado. Aguarde o prêmio amanhã! Bjs.

Claudia disse...

Adorei o texto, Lu.
A trama foi ótima e o modo que você contou, com uma pimentinha aqui e outra ali, e soprando para não arder foi muito bom.
Parabéns.
Um beijo.

Deborah Brandão disse...

Lindo Texto Lucinda, adorei, que talento hein menina. Para mim foi um ganho gigantesco conhecer e passar o dia trocando experiencias com pessoas como você!
Cheguei em casa tão pilhada que nem conseguia parar de falar.Taí o inicio de uma amizade de grandes trocas.
Beijos